Neste post vamos falar com o Igor Regis, onde ele explica os desafios de uma empresa do porte do Banco do Brasil, que está nas vidas de milhões de brasileiros.
Conte um pouco sobre sua posição atual. Qual é o seu título e que tipo de trabalho você faz geralmente?
Meu título internamente é “Especialista I”, e para entender o que ele significa preciso descrever como está desenhada a carreira técnica no BB. Depois o passo de Senior temos mais 3 outros passos em Y onde o profissional pode escolher entre ser Gestor ou Especialista. Se escolher especialista, segue a nomenclatura numérica decrescente, ou seja, Especialista III, II e I. Formalmente só temos eu nesta posição no BB, mas estamos com outro colega em transição para este papel. Meu escopo de trabalho envolve grandes movimentos de arquitetura e engenharia de software do BB, geralmente atuando como uma liderança técnica influenciadora. O papel e forma de atuar é algo depois de um Principal Engineer no mercado, já que minha abrangência de atuação é para a empresa toda. Em algumas empresas este papel é chamado o de Distinguished Engineer, mas prefiro não fazer uso do título, já que em sua maioria estes são estatutários.
Que tipo de impacto você sente que mais gera na sua posição atual? E como isso é diferente em relação a sua posição anterior?
Eu sinto que consigo influenciar livremente diversos times e áreas dentro da empresa. Tenho mais liberdade para trafegar entre as áreas, mas isso também exige uma desenvoltura maior de articulação e comunicação, não só com o corpo técnico mas também com outras lideranças e áreas de negócio. Estou há 3 anos neste papel e anteriormente estava como um executivo de TI, um gestor de cerca de 180 pessoas, responsáveis pelas soluções de segurança integração e ferramental de desenvolvimento/engenharia de software do banco, no papel atual ganhei mais abrangência de atuação, mas tive que aprender a perder a profundidade que tinha e também compreender que a tomada de decisão final já não estava em minhas mãos. Antes eu tinha quase que a palavra final para os assuntos de meus times, como tomador de decisão, hoje sou um influenciador destes e de outros 6 mil profissionais.
Qual é o percentual de trabalho entre código e liderança que você desempenha hoje? 50/50? Passa mais tempo trabalhando com tecnologia/codando ou mais tempo liderando pessoas?
Passo muito mais tempo liderando movimentos/pessoas. Colocar a mão no código é raro dada a abrangência de atuação. Curiosamente esta semana foi uma que coloquei-me a codificar por conta de uma prova de conceito de uso de LLM. Na maior parte dos casos foco em grandes desenhos arquitetônicos, como a estratégia de adoção de nuvem, a qual em uma empresa grande e complexa como o BB tem muitas nuances e não ocorre de maneira uniforme. Eventualmente entro no código para montar um ambiente ou outro de alguma solução, pois gosto de entender como as coisas estão funcionando em detalhes e perceber a experiência atual do desenvolvedor.
Como é um dia normal na sua rotina? Ou como é uma semana normal para você? Quais são suas rotinas principais?
Minha rotina é um tanto quanto caótica :-) Tenho algumas agendas fixas na semana, são sync em diversos forums, como de arquitetura, liderança executiva da TI, alguns projetos estratégicos. Também coordeno uma guilda interna sobre o papel da carreira técnica pós senior. Fazemos encontros quinzenais que passaram a ser abertos para todo o corpo técnico este ano. Nele, por vezes, recebemos profissionais de outras empresas para troca de experiências.
Como você mede seu sucesso? Quando somos pessoas desenvolvedoras de software é comum medirmos nosso sucesso pelo número de commits, pull requests, entregas realizadas. Isso mudou de alguma forma em sua posição atual?
Mudou bastante. Antes (fui dev de 2000 a 2011, líder de equipe de 2011 a 2013, lider de líderes de equipe de 2013 a 2017 e executivo de 2017 a 2020) meu sucesso como líder de times já era baseado no sucesso dos times que liderava. No papel atual e posição que ocupo, o sucesso do meu trabalho é mensurado pela qualidade técnica da TI do Banco do Brasil. Resumindo, gosto de pensar que, se nossos profissionais estão entre os melhores do mercado e nossas soluções também, então estou fazendo um bom trabalho. Outro conjunto de indicadores que costumo acompanhar é o grau de alinhamento que temos com as tecnologias e metodologias mais modernas.
Você participa das decisões de tecnologia ou arquitetura? Como gerencia essa influência em relação aos demais times? Você toma boa parte das decisões ou guia os times para que eles cheguem às conclusões?
Participo das decisões, na maior parte do tempo, influenciando e mais ainda, guiando os times. Gosto de fazer perguntas e provocar boas discussões. Temos um processo formal parecido com um ARB (Architecture Review Board) executivo, eu faço a coordenação, com a participação de outros 2 executivos de desenvolvimento, 1 de infra, um de data science e outro de cyber. Mas por este grupo só é mandatório passar grandes decisões, geralmente que envolvem compromissos de anos e muitos milhões em horas de trabalho. Um exemplo seria a adoção de uma nova stack tecnológica. Geralmente ela emerge dos times até atingir a maturidade de ser proposta no ARB, se oficializada, passa a compor processos seletivos, contratos, suporte e treinamentos de especialistas focados na Stack.
Que soft-skills você percebe que fazem a diferença na sua posição? E como eles diferem da posição anterior, como dev senior?
Já deu pra perceber que faz um tempinho que não sou mais sênior :-). Mas a comunicação, capacidade de negociação e articulação das ideias são as habilidades mais necessárias. Dou ênfase a comunicação, escrita ou falada.
Você dedica tempo para mentorar as demais pessoas dos times?
Sim temos um programa de mentoria e geralmente tenho 2 mentorados a cada semestre. Os mentorados podem ser seniors, gestores ou especialistas
Para chegar a esta posição, você entregou algum projeto especial, ou você sente que foi uma progressão pelo conjunto das suas contribuições?
Vejo que foi uma progressão pelo conjunto das contribuições, por também conquistar o respeito de grande parte do corpo técnico. Houveram grandes projetos que atuei que contribuiram, sem dúvida. O último como senior foi a criação de uma plataforma Web para as agencias do BB, usando uma abordagem que lembra Microfrontends, mas isso foi em 2010, quando javascript contava apenas com jQuery e seus contemporâneos. Hoje esta solução é usada pelas agencias e conta com mais de 600 diferentes aplicações que para o usuário final, parece um grande SPA (Single Page Application), mas por trás são serviços desenvolvidos por dezenas de times diferentes e executados em servidores independentes.
Que dicas você pode dar para quem está decidindo se continua o caminho de desenvolvimento ou se deve ir para a área de gerenciamento de pessoas? O que levou você a escolher pelo primeiro caminho?
Os dois caminhos são muito bons e abrem oportunidades para elevar o seu impacto na empresa e na sociedade. Como gestor você tem que focar e se preocupar bastante com o desenvolvimento das pessoas, é visível a necessidade dos soft-skills, mas na carreira técnica depois de senior você também deve trabalhar muito habilidades semelhantes, pois se você ficar somente no técnico, vai acabar estagnado. É importante também deixar claro que não são escolhas sem volta, você precisa estar pronto para mudar de papel de a empresa precisar disso de você. Claro que há o medo de afastar-se do código e perder a desenvoltura e até ficar obsoleto. O que fiz foi sempre ter um projeto pessoal para manter as mãos no código mesmo que em casa, eu vejo esta e qualquer outra habilidade como músculos que devemos manter treinados. Um Dev full time de alto nível, vai ter um desempenho e produtividade maior que eu, com certeza, mas mantendo a desenvoltura e a mão no código minimamente, eu consigo contribuir com a experiência, falando com este Dev de igual pra igual, conquistando o seu respeito ao invés de impor uma opinião só por causa do cargo em que estou.
Você lembra de algum conselho ou dica que recebeu quando entrou nesta posição e que foi importante para você?
Foi difícil, pois foi a primeira pessoa a ocupar esta posição no BB há 3 anos e fui também responsável por desenhar este papel. Procurei muita gente do mercado, conversei com bastante colegas e li muito a respeito este papel para desenhar ele no BB. O conselho que lembro foi o de não esquecer dos Soft-skills
Quais fontes você usa para se especializar? Blogs, livros, canais do Youtube.
Uso youtube no geral para ver palestras de algumas conferências internacionais que disponibilizam. Os blogs da Thoughtworks às vezes aparecem no meu radar. Livros vão depender do problema que estou atacando. Quando estava formatando a carreira li alguns sobre o assunto como o The Staff Engineer's Path. Os últimos que li estão relacionados a Gestão de Dívidas Técnicas, DDD, Teams Topologies, alguns de arquitetura.
Onde as pessoas podem te encontrar? Site, Linkedin, Twitter, etc.
Eu uso basicamente o linkedin e as pessoas podem me encontrar neste link linkedin.com/in/euigor